quarta-feira, 24 de março de 2010

Nada.

Cansado deste cinzentismo,
Cansado da força do escuro,
Cansado de tudo.
Há uma impotência brutal em mim...

Não me encontro no auge de coisa nenhuma
E não sou capaz de me erguer do chão pisado por tantos.
Clima inexplicavelmente estranho.
Seria capaz de tanto por tanta coisa,
Embora o corpo nem sempre obedeça.

Olhar em meu redor é a coisa que mais temo
E a nostalgia no seu esplendor, preenche cada centímetro do que respiro.

Lembro o teu toque e o teu calor,
Esses velhos amigos a quem confiava os meus pêsames.
Estranhamente, seria capaz de desenhar a textura da tua língua.
Cada marca e cada sinal teu, eu sei onde está.
Saí vitoriosamente derrotado.
Sou metade do que outrora fui.

Lua.

Aqui, é tudo tão luminoso que tenho dificuldade em ver. O primeiro pé pisa uma superfície gelada e o segundo segue-o inconscientemente. Branco, é tudo quanto avisto e a infinita dimensão deste espaço assusta-me e não sei se sou capaz de me desprender daqui. Caminho e uma luz mais forte que qualquer outra que alguma vez conheci,aproxima-se. Antes de ter tempo de me questionar acerca do que se passava naquele momento, o foco partiu em busca do que procurava, deixando-me para trás. As pernas tremem incessantemente mas a vontade é superior e corro sem ser capaz de respirar. Não identifico nada por onde passo, não distingo formas nem contornos mas isso há muito que deixou de ser a minha prioridade. Após tamanha perseguição, a luz interrompe a sua fuga e o riso de uma criança torna o silêncio ensurdecedor. Sobre a sua cabeça, frágil e pequena , aquela luz dissipa-se. Os olhos penetram-me a alma e o seu cabelo parece permanentemente despenteado. Estou frio não de medo, mas de incerteza e dúvida. A única coisa quente naquele perímetro é a mão dela que procura a minha e a aperta com uma força inexplicável. Os seus lábios roxos esboçam um sorriso que me tranquiliza instantâneamente. Sem pensar, beijo a sua testa inocente e suave e a humidade quente da ternura desaparece sem deixar rasto. Onde estará ela? Partiu sem dizer nada...
Acordo, desvio as cortinas com as mãos dormentes e suadas e olho o firmamento.
Nessa noite, a Lua brilhava.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Nostalgicamente feliz

A brisa suave do sul gela-me o rosto,
Os primeiros raios de sol emergem por entre as nuvens de algodão,
Uma palavra sai sem propósito.

No meio deste nada cheio de tanto, desvendo mistérios
Não sei porque comecei mas estou certo que vou acabar
O cheiro a terra molhada é intenso, o panorama constrangedor.
Que caminho seguir, que escolha fazer...
Estarei eternamente com os olhos fixos no mais alto penedo
Á espera de respostas que jamais virão

Enquanto posso, espero
E quando um dia não puder mais,
Alguém esperará por mim, e essas tais respostas ás minhas angústias
Acabarão por surgir, não para me serem úteis
Mas para serem fulcrais a tantos outros.

Esses outros, vulgares ou especiais não vão saber o que fazer
Mas vão fazer o que sabem, no fundo, o mesmo que eu
Não vão correr, não vão ser capazes de descortinar os seus receios,
Não vão suar uma única gota,
Vão antes sentar-se numa rocha "musgosamente" preenchida e perturbante,
Tal como eu, esperando que outro alguém tome o seu lugar.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Sentimento este que me invade,
Que não me deixa senão pensar nela.
Algo no mais profundo interior meu me avisa,
Me faz perceber que há muito mais na vida, este percurso odioso que percorremos,
Que flores e pôr-do-sol.

Deixo-me invadir, afundo-me sem conseguir evitá-lo
Perco-me nas longínquas entranhas que me prendem dentro do meu sujeito.
O pensamento torna-se fraco, a coerência inexistente
Tudo aquilo que tenho (ou tinha) foge-me por entre os dedos...
O que sinto, o meu corpo transmite-o através de olhares vazios e suspiros dolorosamente constantes.
Também sonho, sonhos utópicos
Utópicos porque não tenho a capacidade de os fazer cumprir
E não porque sejam inatingivéis.

Quero manter-me á tona e não me deixar engolir,
Não consigo, o que me consome imperialmente não me deixa sequer esbracejar
Sou fraco mas sou o que sou, penso nela e só nela.
Dava tudo para poder tê-la, e tê-la seria o meu tudo.