Este banco de jardim não me dá as respostas que tanto anseio ter. Nunca gostei de beber mas hoje tenho uma garrafa de vodka ao meu lado esquerdo, dentro de um pequeno saco plástico preto, só para tentar passar despercebido a alguém que passe aqui por acaso. Estou farto de não saber o que sou, o que sinto ou o que faço neste mundo que não me agrada nem um pouco. O meu outrora forte e alegre espírito está agora reduzido a uma ou duas certezas.
Antes, passava horas e horas neste jardim a ouvir os pássaros cantar, a tentar perceber o seu modo de se exprimirem. Antes, tinha interessantes conversas com os mais batidos em outros assuntos, normalmente de boina na cabeça e bengala presa entre os braços cruzados. Eles sim, sabiam o que era a vida, sabiam qual era a sua “missão”. Agora eu…nada em mim faz sentido, nada mesmo. Não sei quem sou. Julgava saber, julgava ser detentor de uma personalidade forte e de uma força interior capaz de mover montanhas e vales, mares e oceanos. Não sou nem adolescente nem adulto, nem criança nem velho. Esta minha existência dá-me demasiadas dores de cabeça.
Perdi há um mês, mais coisa menos coisa, o meu primeiro emprego. Fui empregado de balcão num café pacato, frequentado maioritariamente por pessoas menos jovens. E agora, corro o risco de perder uma pessoa que me é muito importante. Amo-a com tudo o que tenho. As circunstâncias não são as melhores e a minha falta de predisposição para muita coisa não é um factor positivo. Há dias em que acordo e fico na cama, com o olhar preso no tecto branco, com alguns sinais de humidade e a minha mente divaga sobre assuntos e questões que me são fulcrais. Apetece-me partir, sem rumo e sem destino. Sozinho, sim porque ninguém seria capaz nem de me perceber nem de me acompanhar. Tudo isto me mete nojo. A chuva, o sol, o riso das crianças…tudo me mete nojo!
Gostava de sentir novamente aquele calor terno de um abraço amigo, aquele beijo de despedida entre namorados, aquele olhar das mães quando estão orgulhosas dos filhos. Amava a vida, agora já não. A minha rotina torna-me frágil e facilmente atingível. Quando alguém me pergunta quem sou, respondo: “Bem, sou metade do que era. Sou só mais um filho da puta, cobarde e fraco, à imagem e semelhança de tantos outros”. Não tenho pudor em assumir perante toda a gente. Tenho medo de tudo, não sou nem tão pouco quero ser exemplo para ninguém. Talvez um dia, daqui a uns longínquos anos, seja capaz de perceber quem sou.
Começa a chover, está na hora de voltar.
terça-feira, 22 de junho de 2010
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