Achou-se só, perdido em pensamentos e cogitações banais. Claro que não queria parar, até porque parar era para ele um péssimo estímulo. Cresceu de mão dada com a alegria, a felicidade inóspita.
Sentado num café no centro da cidade admirava atento o trespassar fogaz de emoções, sorrisos e cheiros. Puxou do pequeno caderno de capa negra e tirou do bolso esquerdo da gabardine a caneta. Timidamente, pintou palavras vazias, aqui e ali, sem nexo, de significado dúbio. Riscou, rasgou e riscou mais uma e outra vez. A solidão amiga soava-lhe estranha, a falta de tempero da sua vida, a ausência perigosa de seres. O silêncio, sim, até o silêncio começava a aterrorizá-lo.
Ao fundo, numa mesa ao canto, um par de conversas. No lado oposto, uma nuvem de fumo oriunda dos cigarros a arder.
O dono, sujeito baixo e lingrinhas passava o pano húmido pelo balcão, limpando os restos de cerveja e despejando os cinzeiros imundos. Quem entrasse pela porta castanha, que rangia a cada movimento, sentia o cheiro a café que descrevia na perfeição o espaço.
Horas volvidas. Pequenos candelabros alinhados em pares nas paredes frias começam a iluminar os clientes que saíam e entravam sem proferir uma sílaba. Colocavam a moeda em cima do balcão e com um aceno de cabeça e um grunhido peculiar respondiam afirmativamente à pergunta "café?".
Havia um grupo interessante sentado logo à entrada. Duas mulheres e outros tantos homens, talvez casais, talvez conhecidos apenas. Elas de cabelo claros e sedosos e sorriso rasgado. Eles, de barba por aparar e cabelos grisalhos. À distância a que se encontrava, era dificil perceber a relação que mantinham mas o desconhecido que sobre eles pairava, deixou-o irrequieto.
Levantou-se, arrumou as coisas e foi. Pelo caminho, deixou-se intrigar pelos transeuntes que com ele trocavam olhares.
Sentou-se no sofá, encheu o copo de uísque, Kafka...
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
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