Devemos nós ser livres se não quisermos a liberdade? Devemos
nós ser felizes se não achamos ter tudo aquilo que nos serviria para ter o
sorriso eterno?
É uma questão que me intriga profundamente desde tenra
idade. Os meus irmãos sempre adoraram jogar futebol e ficar horas debaixo da
ponte centenária a dois minutos da casa da avó, à espera que as raparigas mais
velhas que já namoravam e andavam sempre de mini saia por lá passassem. Essas
miúdas eram tão boas, dizia o Carlos. E eram mesmo. Tinham a pela queimada pelo
sol quente de Verão e o cheiro de papoilas nos cabelos. O meu irmão mais velho
já havia namorado duas ou três, deliciava-se a contar os detalhes mais íntimos
de relações infinitas de três semanas. Mas ai se ele as sabia aproveitar. Na
primeira semana seduzia-as com falinhas mansas e o olhar latino fulminante. No
inicio da segunda semana já as tinha desflorado umas quantas vezes. Até ao dia
em que já só se aborrecia com os dramas e os lamentos das queridas.
Depos do jantar, os mais novos ajudavam a arrumar a cozinha,
sacudir a toalha, lavar e secar a loiça com um pano bordado pela vizinha do
fundo da rua, esfregona no balde, escorrer a água e num movimento conseguido
pela observação terminavam o que era para todos um sacrilégio, até mesmo para a
mãe que não era a típica mulher e mãe, dona e cuidadora da casa. Na verdade a
mãe era tudo menos isso. Péssima cozinheira, detestava a maneira como o pai (não)
se cuidava e irritava-se cada vez que tínhamos discussões de irmãos. Mas posto
tudo isso era a nossa heroína como qualquer mãe o é para um filho.
Não me esqueço da pele macia das mãos quando tinha febre e
passava horas sentada num banco baixo de madeira que lhe fazia sentir as costas
estalar a cada minuto, a agarrar os meus dedos pequenos e frágeis e a voz
dela…bem a voz dela era angelical de uma afinação invejada por muitas cantoras
da cidade que atuavam no teatro municipal a cada quinzena do mês acompanhadas
por uma orquestra medíocre composta por velhos gordos e que o destino quis que
ali fossem parar, sem família, sem vida nem vontade de viver.
Era tão tarde. Os olhos pesavam como dois calhaus em cima de
uma formiga. O Carlos saiu para levar um bolo de laranja à D. Teresa, a médica
da cidade que fazia cinquenta anos, uma data a festejar. O pai deu o último
gole na cerveja e preparava-se para vestir o casaco quando bateram à porta. Era
ele, de cabelo ruivo e rosto em tudo semelhante ao da mãe. Tinha um sorriso
enorme e os dentes alegremente perfilados. Eram os dentes mais brancos que já
havia visto.
Porque é q demoraste tanto tempo? A D. Teresa convidou-me a
entrar e cheirava tão bem que não resisti. Estava lá um quarto da cidade.
Aristocratas e camponeses, mulheres feias, bonitas, gordas, magras, sujas, com
bom aspeto.
À data o Carlos tinha já dezasseis primaveras e nunca tinha
namorado. Entrou sem hesitar e dirigiu-se para um canto da sala onde ouviu umas
conversas sobre política, daquelas que só gente letrada entende. No fundo, nem
eles entendem, pensava. Usam palavras engomadas e acenam com a cabeça na
esperança que alguém os salve com um copo de vinho caro e um charuto cubano.
Comeu cabrito, porco, coelho e uns pastéis esquisitos com um
recheio amarelo cheio de açucar. A D. Teresa perguntou pela família, sentou-se
num divã ao lado e chamou alguém que lhe queria apresentar. Uma mulher uns dez
anos mais nova, amiga de infância que estava na cidade pela primeira vez.
Enviuvou uns meses antes e precisava de mudar de ares. Respondeu
afirmativamente quando lhe perguntou se gostaria de passar umas semanas lá em
casa, longe da capital e perto da calma. Cumprimentou-o com dois beijos e
sorriu. Que mulher pensou. Um corpo torneado e uns cabelos escuros que lhe
caiam sobre o quadril em madeixas perfeitas. Tinha um nariz delicado e uns
lábios carnudos. Depressa a despiu com os olhos e não foi fácil manter uma
conversa de circunstancia que estava longe de o ser.
A casa estava vazia. Os resistentes da noite estavam
religiosamente na mesma posição há horas e numa mesa de vidro com pernas de aço
Valeriano de valor incalculável as garrafas do vinho caro contorciam-se umas al
lado das outras. Teresa estava a cair de bêbeda e foi deitar-se
Carlos, é esse o teu nome não é? Sim. Fui casada tantos anos
desde tão nova que não pude desfrutar de todos os prazeres da vida. E agora
aqui estou contigo, um jovem atraente, bem feito, bonito…Aproximou-se e
beijaram-se. Carlos não querida mostrar fraqueza, dar a entender que era a
primeira vez que beijava alguém, pelo menos gostava de pensar que a colega de
escola que beijou aos cinco anos não contava. Hm, estás tímido? Não te
preocupes, eu ajudo. Passou a mão no corpo dele e continuou a beijá-lo.
Levantou-se, abriu o fecho lateral do vestido azul mar , quando o rapaz pôde
admirar aquele corpo experiente mas conservado, com uns seios não muito
grandes, um rabo arrebitado, bem melhor que aqueles que via debaixo da ponte.
Ajoelhou-se, desabotoou-lhe as calças de fazenda que haviam sido do pai e ficou
surpresa pelo facto de o Carlinhos estar já ereto.
Foi rápido. Mais rápido do que o contexto pedia. Ela tinha a
coisa tao quente pensou. E as mamas? Bem, as mamas eram tao bonitas. E mais
ainda…nunca pensei que ela…sabes…aquilo que o Rafael diz que só as mulheres da
vida fazem….oh, tu sabes…ela usou a língua….nem imaginas o quão bom é!!!
‘Tá bem Carlos, achas mesmo que vou acreditar que comeste a
amiga da D Teresa? Aquela boazona não é para o teu bico pá. Já viste a
quantidade de homens da cidade que andam atrás dela? E olha que alguns têm
papel…Se ela não se deita com eles, contigo é que era impossível isso
acontecer. Vai sonhando, vai..
A mãe abriu a porta preocupada. Então Carlos, tanto tempo
para entregar um bolo? Vai lavar a cara e já para a cama. Amanha é dia de
escola.
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