terça-feira, 21 de abril de 2015
Cheiro
Laura
Aqui e ali, a falta de conselhos maternos e femininos. Aqui e ali a ausência do cheiro. Aqui e ali a não existência de beijos doces.
Acordou mais cedo que o habitual, porque no dia anterior não tinha corrido até ao fim a persiana do quarto. Esfregou os olhos, bocejou, espreguiçou-se duas vezes e dessas duas vezes sentiu-se do tamanho de um gigante, daqueles que pisariam a casa da avó e o quintal ficando o dedo grande para lá do portão prateado.
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
"Finalmente a sós"
Sentado num café no centro da cidade admirava atento o trespassar fogaz de emoções, sorrisos e cheiros. Puxou do pequeno caderno de capa negra e tirou do bolso esquerdo da gabardine a caneta. Timidamente, pintou palavras vazias, aqui e ali, sem nexo, de significado dúbio. Riscou, rasgou e riscou mais uma e outra vez. A solidão amiga soava-lhe estranha, a falta de tempero da sua vida, a ausência perigosa de seres. O silêncio, sim, até o silêncio começava a aterrorizá-lo.
Ao fundo, numa mesa ao canto, um par de conversas. No lado oposto, uma nuvem de fumo oriunda dos cigarros a arder.
O dono, sujeito baixo e lingrinhas passava o pano húmido pelo balcão, limpando os restos de cerveja e despejando os cinzeiros imundos. Quem entrasse pela porta castanha, que rangia a cada movimento, sentia o cheiro a café que descrevia na perfeição o espaço.
Horas volvidas. Pequenos candelabros alinhados em pares nas paredes frias começam a iluminar os clientes que saíam e entravam sem proferir uma sílaba. Colocavam a moeda em cima do balcão e com um aceno de cabeça e um grunhido peculiar respondiam afirmativamente à pergunta "café?".
Havia um grupo interessante sentado logo à entrada. Duas mulheres e outros tantos homens, talvez casais, talvez conhecidos apenas. Elas de cabelo claros e sedosos e sorriso rasgado. Eles, de barba por aparar e cabelos grisalhos. À distância a que se encontrava, era dificil perceber a relação que mantinham mas o desconhecido que sobre eles pairava, deixou-o irrequieto.
Levantou-se, arrumou as coisas e foi. Pelo caminho, deixou-se intrigar pelos transeuntes que com ele trocavam olhares.
Sentou-se no sofá, encheu o copo de uísque, Kafka...
terça-feira, 30 de agosto de 2011
A Graça da Lua.
É incrível o que nos passa pela mente enquanto um cigarro arde. Todas as inconstâncias da vida, as experiências que dizemos fulcrais, o que quase fazemos e o que quase deixámos por fazer. Utilizamos um vocabulário engomado para que nos levem a sério, quando precisamos gritar bem alto: “MERDA”!
Não posso perdê-la, não agora, deixem-me crescer e escolher os meus próprios caminhos, não mos apontem. Deixem-me cair, reerguer-me, correr, viver, sentir, provar…É forte demais esta pressão limitada, este pesar que é leve, este toque que nem sequer sinto. Talvez adore a monotonia, a rotina, o pouco que sabe tão bem. Talvez odeie a diferença, os tiros nos pés que me parecem coroas douradas sob uma cabeça demasiado pequena para a ostentar. No fundo, aliás, nem precisamos ir muito fundo para perceber a insignificância que respiramos. Não há pessoas especiais, há sim, pessoas que amamos e pessoas que não amamos. Não são necessariamente especiais por isso. Pintamos as coisas dessa forma porque é uma necessidade biológica que afecta o ego, não porque seja real e transparente.
Subitamente, a última réstia de tabaco. Deixamos os degraus de pedra que a brisa da noite gelou e seguimos caminho, sim aquele tal caminho. E tudo isto se desvanece. Continuo a sentir prazer em amar, neste caso, em amá-la. Continuo a sentir prazer em ser amado, em passar-lhe a mão pelo cabelo enquanto suspiro, em provar os lábios que sorriem quando a abraço. É isto o amor, não estou certo que exista, porém, precisamos de acreditar que sim. E confesso que, e faço questão de frisar, com ela o amor existe mesmo. Houve dúvidas outrora, mas agora voaram, aceitaram a boleia de uma nuvem escura que se sentiu a mais e permitiu que o sol brilhasse. Com ela e só com ela, o sol brilha todos os dias, dá até impressão que o seu brilho cresce a cada dia que passa, a cada Lua que vai, enquanto alguns admiram a sua Graça.
A ti. Porque te amo e porque sei que existes.
domingo, 7 de agosto de 2011
Irrealidade.
Ciudad.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Noites claras.
Olhar em frente relaxa-me a face e rouba-me sorrisos. Sorrisos maduros e ternos, sorrisos frescos, rasgados, eternos. Pedir que me abraces é pouco. Suplicar cada beijo, cada toque, cada olhar, é justo.
As palavras ganham autonomia e mal me lembro de as proferir, só de pensar no que dizem. Não estou perdido, pelo contrário, encontro-me hoje seguro do que sou e para onde quero ir. No entanto, o medo teima em refugiar-se no meu interior quente e feliz. Mas não há medo algum que faça sentido nem ocupe lugar em mim. Repetir-me-ei todas as vezes que te sentir ir para bem longe, na esperança de que um dia voltes, com o teu ar majestoso, de menina alegre e simples.
Limpemos a tela, não para apagar o que vivemos, mas para que possamos continuar a pintar nela.